segunda-feira, 30 de março de 2015

Golden State Warrios conquistam um título 39 anos depois

NBA.com

Desde há uns anos que os Golden State são a equipa que mais gosto de ver jogar - apesar de não serem a minha equipa favorita - mais ou menos desde a altura que Stephen Curry entrou, em 2009. A sinergia da equipa tem vindo a crescer ao longo destes anos e as entradas de Bogut (2012) e Iguodala (2013), dois jogadores com o seu valor confirmado na liga, fizeram dos Golden State candidatos ao título.

A qualidade que mostraram este ano é incrível, sobretudo por ser tão consistente e difícil de contrariar. É a terceira vez consecutiva que vão aos playoffs e é precisamente a experiência adquirida nestes últimos anos que os torna na equipa a abater.

sábado, 14 de março de 2015

O "Combine"



Na viagem de regresso do nosso último jogo, um dos capitães da minha equipa explicou de uma maneira muito breve uma das coisas que faz do Futebol Americano um dos desportos mais espectaculares: a capacidade atlética dos jogadores.

Estava ele a dizer que, em conversa, começou a explicar o que é o Scouting Combine da NFL - um evento de uma semana onde se reúnem todos os candidatos ao draft desse ano, participando em provas físicas e mentais que são vistas e avaliadas pelos vários treinadores e GM's das equipas.


"Portanto, são uma espécie de testes que fazem aos jogadores para avaliar o potencial deles?", perguntaram-lhe. "Sim", respondeu ele, "só que aqui batem-se recordes do mundo". Byron Jones, no Combine deste ano, bateu o recorde do mundo de Standing Long Jump, uma competição que já foi Olímpica e que ainda faz parte de alguns campeonatos de atletismo. Jones bateu o recorde anterior de 3m47 com a marca de 3m73.


sexta-feira, 13 de março de 2015

As diferentes maneiras de recordar um atleta

Há alturas em que o jornalismo desportivo português é um desgosto. Dia 10 de Março, um acidente entre dois helicópteros fez 10 vítimas mortais, entre as quais 3 atletas franceses (Camille Muffat, Alexis Vastine e Florence Arthaud), quando iam a caminho do local onde seria filmado um reality show - Dropped - seriam largados "no meio do nada" e teriam de regressar à base sem ajudas externas.

O "Record" do dia seguinte pintou uma história desinspirada sobre o assunto, lá nas últimas páginas e sob o tema "Modalidades", enumerando os atletas e alguns dos seus feitos, onde e a que horas se deu o acidente, referindo meia dúzia de reacções de outros atletas e François Hollande e compilando uma lista de outros acidentes aéreos envolvendo atletas. A reportagem começa assim: 

"Passadas mais de 24 horas do acidente que vitimou dez pessoas num choque entre dois helicópteros na Argentina, as causas continuam a ser desconhecidas, mas ninguém tem dúvidas que se trata da maior tragédia da história relacionada com a produção de um "reality show" de sobrevivência". 

Ler esta notícia nem é sequer triste, apesar do tema. Não faz nada por nós, não se esforça por recordar a memória dos atletas envolvidos nem nos aproxima do drama da situação.

Por sorte, li o "New York Times" do mesmo dia. Na capa tinha uma notícia com o título "She rode the waves, and broke barriers". Não reconheci quem era a pessoa na fotografia, mas percebi que seria alguém que tinha morrido num desastre de helicóptero no dia anterior. Era Florence Arthaud, apresentada pelo jornal como sendo "once the most popular sports figure in France: quite the achievement for a diminutive female sailor in a country with no shortage of soccer, rugby, basketball and tennis stars". A reportagem continuava na página 3 (sobre o acidente) e na página 13 (sobre Florence). A notícia sobre o acidente segue um caminho bastante normal, com as circunstâncias e os envolvidos, mas algumas citações dão-lhe uma profundidade digna do momento. Mas o texto sobre Florence Arthaud é completamente diferente e marcou a minha maneira de ver escrever sobre atletas. Resumo brevemente o artigo.



A sua popularidade nasce, primeiro que tudo, da ligação forte que os franceses têm com o acto de velejar, sobretudo a solo. 

"I think the French like solitary heroes: adventurers, travelers (...) I think our culture is more oriented toward the individual exploit, while the Angol-Saxons have a culture that's more oriented toward collective accomplishment. We seem to have trouble getting organized as a group", Isabelle Autissier, outra velejadora francesa. 

Quando, em 1990, Arthaud venceu a Route du Rhum, prova transatlântica quadrienal entre França e Guadalupe, ela venceu também o preconceito de que os homens são mais capazes de aguentar o rigor duma prova destas. Deram-lhe a alcunha de La Petite Fiancée de l'Atlantique e tornou-se numa estrela e num símbolo. Depois disso teve dificuldades em transformar esse feito em novas vitórias. Os problemas económicos em França nos anos 90 e o seu carácter tempestuoso tornaram difícil arranjar patrocinadores.

"Florence was someone extraordinary on the water but uncontrollable on land, and that worked against her. She ate. She drank. She smoked (...) That was without a doubt not to the taste of the sponsors. Look at today's sailors. They are more settled, more polished, more good boys", disse Autissier.

Arthaud não voltou a competir ao mais alto nível, mas isso não fez com que a geração seguinte de velejadores, e alguns até da sua geração, não se sentissem particularmente inspirados pela francesa. Autissier, Catherine Chabaud, Ellen MacArthur, todas grandes figuras do desporto e todas com um mesmo ídolo: Florence.

Participou pela primeira vez na Route du Rhum aos 21 anos, sendo a única mulher e a mais nova de entre todos os participante, terminando em 11º lugar. 12 anos depois bateu o recorde da travessia a solo do Atlântico mais rápida, em menos de 10 dias. Em Novembro do mesmo ano venceu a Route du Rhum. "Calm down!", gritou ao molhe de jornalistas e fotógrafos que a rodeavam depois dos 14 dias e 10 horas da prova em Guadalupe.

"I really don't think the world of sailors is a macho world. I think it's a world where people respect each other for their talents".
Em 2011, Florence Arthaud quase morreu quando caiu do seu barco durante a noite enquanto viajava na costa da Córsega. O veleiro continuou o percurso, em piloto automático, e Arthaud ficou para trás sem colete de salvação. Felizmente tinha ficado com o seu telemóvel e uma lanterna, com os quais conseguiu ligar a pedir assistência, que chegou duas horas depois. "I'm a surviver. The devil didn't want me". Arthaud viria a morrer quatro anos depois, num acidente de helicóptero.



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Nunca tinha ouvido falar de Florence Arthaud, mas esta breve notícia pintou-me uma imagem vívida de uma personalidade forte de alguém que fazia o que queria. E é assim que todos os grandes atletas, devem ser lembrados: pela maneira como nos tocaram fazendo aquilo que sabem melhor.


sexta-feira, 6 de março de 2015

Regras do futebol ficam na Idade da Pedra mais um ano




Dia 28 de Fevereiro reuniu-se o International Football Association Board (IFAB) para discutir possíveis alterações às regras do futebol. A saber, estavam em cima da mesa decisões sobre:

- o fim do "castigo triplo" (que é quando um jogador de campo defende a bola com a mão e faz penalti, é expulso e leva uma suspensão),
- a existência de uma quarta substituição se o jogo for a prolongamento,
- o uso de tecnologias para medir a performance dos atletas
- e a existência de substituições flexíveis nas camadas jovens.

Para discussão (ficou logo bem claro que nenhuma decisão seria tomada sobre o assunto) estava também o uso das repetições em vídeo para ajudar os árbitros na tomada de decisões.

Primeiro que tudo: é só isto que têm para discutir num ano inteiro de futebol? Se formos ver a lista de alterações que este organismo fez ao futebol, percebemos que estas não são as pessoas mais proactivas do mundo - 6 alterações, 3 delas à mesma regra. Acho que 4 gajos sentados no café em dia de jogo abordam mais temas do que esta malta. Já agora, o IFAB é composto por 8 pessoas, 4 representantes da FIFA e um de cada uma das ligas britânicas. O voto vale o mesmo para todos e é necessário uma maioria de 3/4 para passar uma lei - que é o mesmo que dizer que se, ou a FIFA, ou os britânicos, não quiserem uma lei, ela não passa. Parece justo.

A decisão mais importante que tomaram foi relativamente ao "castigo triplo", e mesmo essa nem foi bem uma decisão - eventualmente, algures no futuro, esse jogador deixará de ser suspenso. É coisa para não abalar muito o mundo do futebol.

A quarta substituição não será introduzida, porque segundo eles não há razões para o fazer. Quem já viu meia-dúzia de jogos que foram a prolongamento e sabe que a qualidade do jogo cai bastante com a crescente fadiga física. As equipas partem-se ao meio e os defesas só defendem e os avançados só atacam. Há treinadores que decidem guardar uma substituição para o prolongamento, porque muitas vezes esse jogador faz a equipa inteira andar, unindo as duas metades. Mas talvez seja preferível os prolongamentos continuarem a parecer o Solteiros vs Casados do bairro.

A utilização de tecnologia para medir a performance dos jogadores será aceite, desde que a informação não seja usada durante o jogo. Tudo bem.

As substituições flexíveis (ou seja, o mesmo jogador poderá ser substituído e voltar a entrar) nas camadas jovens foram aceites; resta saber em que condições.

Quanto ao caso mais sério, a utilização do vídeo para apoiar os árbitros, ficou em águas de bacalhau. A razão principal para terem adiado a decisão é, justificam, que 1. é uma decisão muito importante para ser tomada de ânimo leve, "the biggest decision ever made in the way football is played" e 2. que precisam de mais informação.

Isto é preguiça ou falta de visão?
1: a biggest decision ever made não é esta, nem de longe. Isto nem sequer altera a maneira como se joga (talvez o teatro deixe de fazer parte do jogo, mas isso é bom!). Antigamente as equipas tinham 20 jogadores, não havia guarda-redes, as balizas não tinham altura máxima, o jogo durava duas horas ou mais e não havia foras-de-jogo. Isso sim foram alterações nos fundamentos do jogo, agora se os árbitros podem ou não fazer melhor o seu trabalho nem devia estar em discussão.
2: se precisam de mais informação vão aos EUA, eles usam isso em vários desportos e de maneiras diferentes, é como ir a um buffet: é só escolher. E se precisam realmente de mais informação, porque é que proibiram a Holanda de usar esse método na taça, quando isso poderia trazer-vos os dados que precisam sem terem de pôr o pescoço em risco (afinal, foram eles que se ofereceram)?

Quem são estas pessoas?