terça-feira, 30 de setembro de 2014

Portugal é campeão europeu de ténis de mesa

Foi com muita pena que não assisti ao vivo (porque estava ocupado com outras coisas) à final do Campeonato da Europa de ténis de mesa, jogada no Pavilhão Atlântico este domingo. Ainda assim consegui ver o derradeiro jogo entre Marcos Freitas e Timo Boll. Foi bonito de se ver. A equipa feminina também conseguiu a sua melhor classificação de sempre: 12º lugar, garantindo a participação na próxima edição do campeonato.
 
 
Portugal chegou à final, surpresa para muita gente, incluíndo para mim que não fazia ideia da qualidade dos jogadores portugueses neste desporto (Marcos Freitas é 12º do ranking mundial, Tiago Apolónia 20º  e João Monteiro 51º - nada mau para um dos desportos mais jogados no mundo, sobretudo por causa do grande número de jogadores asiáticos). Mas a final era outra conversa, frente à equipa campeã nos 6 últimos anos; a única equipa europeia com jogadores no top 10 mundial, e logo dois - Dimitrij Ovtcharov (5º) e Timo Boll (9º).
 
No primeiro jogo, Marcos Freitas venceu Steffen Mengel (36º), como seria de esperar. No segundo, Timo Boll bateu João Monteiro. Até aqui nada de estranho. Os dois jogos mais difíceis de decidir viriam depois. No primeiro Tiago Apolónia venceu Ovtcharov, depois Freitas fez o mesmo a Timo Boll, ambos por 3-1.
 
 
 
 
Não vi o primeiro jogo, por isso não posso dizer grande coisa sobre ele. Quanto ao segundo, mesmo não percebendo grande coisa de ténis de mesa, posso dizer que já conhecia o Timo Boll de há alguns anos, quando passava horas em frente à Eurosport, e nunca o tinha visto tão cinzento. O segundo set foi dominado pelo alemão com o seu habitual jogo sólido, mas sobretudo depois disso Boll praticamente desapareceu, apático e por vezes triste até. Não sei se foi o efeito de jogar "em casa" do adversário (a televisão onde estava não tinha som), mas posso presumir que o barulho do público possa ter feito a diferença psicológica notória entre os dois atletas. Timo Boll e Marcos Freitas tinham-se defrontado duas vezes até hoje, com duas vitórias expressivas por 4-0 para Boll. O último ponto do jogo foi um exemplo perfeito da diferença na confiança de ambos, com um magnífico contra-ataque de Freitas a deixar Boll sem resposta possível.
 
 
 
 
A única coisa que me estragou a festa foi a presença de Passo Coelho, com ar de quem tem alguma coisa a ver com a vitória. Os três jogadores que disputaram a final estão todos a jogar em equipas estrangeiras, em França e na Alemanha (deve ser porque lá o tempo está melhor), e o nosso governo cada vez aposta menos no desporto.
 
 
 
 
 
 

sábado, 27 de setembro de 2014

Linha-ofensivo não faz ideia do que se passa

O principal papel dos offensive linemans (#55 do vídeo) no futebol americano é proteger o quarterback (#2). Sem ninguém para bloquear, o #55 parece um pouco perdido na jogada; presumo que a equipa da defesa não tenha feito ninguém avançar pelo centro e tanto este linha como o #50 ficaram à procura de alguém em quem "bater". O que ele devia ter feito era olhado para os lados à procura de algum buraco que os seus colegas tenham deixado aberto. Se o tivesse feito talvez tivessem mantido a posse de bola e ele não teria feito má figura na jogada.

The Black Hole - os adeptos dos Oakland Raiders


Quando comecei a conhecer as equipas da NFL apercebi-me de que há montes de merchandising dos Oakland Raiders nas ruas de Portugal. Sempre me perguntei porquê, uma vez que os Raiders são das piores equipas da liga. Aparentemente tem a ver com a imagem de durões da equipa, e do próprio símbolo que metem na roupa, e a malta dos subúrbios gosta disso.

Mas nos EUA os adeptos dos Raiders, que se intitulam The Black Hole, levam a coisa mais a sério. É todo um evento a maneira como se preparam para os jogos. Não vi, em mais lado nenhum nem em nenhum outro desporto este aparato todo (mas vou continuar à procura). Têm aqui alguns exemplos:


 
 


 
 




 
 

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Mo'ne Davis continua a crescer para o mundo

Mo'ne Davis ,de quem já aqui falámos, passou de sensação da Little League a ser a primeira lançadora a vencer o título para, agora, ter a camisola que usou no a final no Hall of Fame do baseball norte-americano. Um grande final para a caminhada maravilhosa de Davis durante 2014. A sua evolução nos próximos anos poderá ser uma boa demonstração daquilo que as mulheres podem fazer no mundo do desporto.







segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Kobe Bryant, 36 anos, prepara o seu regresso

Nunca gostei muito dos LA Lakers, em parte por serem rivais dos Boston Celtics mas mais ainda porque a sua principal figura era o Kobe Bryant. Arrogante ao ponto de me fazer sentir desconfortável, demasiado dominante para o jogo ser divertido. Mas o gajo era bom.
 
No ano passado jogou apenas 6 jogos, entre lesões. Com 36 anos podia simplesmente arrumar as botas, mas esse não é o seu estilo. Por isso, nesta off-season trabalhou o dobro de toda a gente para voltar em força. Claro que não vai voltar à sua forma física, esperto como é ele próprio admite que o seu corpo não vai voltar a ser o que era. Mas também sabe que está mais inteligente, que é mais capaz de ler o jogo, de ganhar com a cabeça; às vezes isso não chega, mas ele promete dar luta.
 
Nunca gostei do Kobe Bryant, mas passei a gostar mais dos Lakers quando o Steve Nash - uma das minhas paixões neste desporto - se juntou à equipa. A minha opinião sobre o Kobe parece estar a mudar. Ao contrário do que eu pensava, ele não vivia dos seus atributos físicos e técnicos e usava a sua superioridade como combustível para se manter concentrado. Quem o conhece diz que a sua capacidade nasceu do fogo, da "competitive drive". E, mais do que isso, ele não vive daquilo que conseguiu, mas usa o seu passado para saber o que consegue ou não fazer hoje.
 
 
 

O Petit não é o treinador do Boavista

O verdadeiro treinador do Boavista é Daniel Silva. Esse é que tem o curso de treinador de nível 4, o Petit não passa de um adjunto com nível 2 (ou 3 se já o tiver feito entretanto).
 
Se formos ver Programa Nacional de Formação de Treinadores, o Petit, sendo um treinador de nível 2, pode "preparar, ministrar, rever e avaliar sessões de treino" e "demonstra competências básicas para o treino", mas não pode "planear, implementar, rever e avaliar programas multi-anuais de treino" nem "demonstra competências avançadas de treino, inovação e liderança". Claro que não tem, o Petit não andou a marrar para poder fazer aquilo que faz melhor que é mostrar aos seus jogadores aquilo que devem fazer. "Só o treinador de nível 4 reúne condições para realizar TODAS as tarefas".
 
 
Este documento parece uma piada. Logo no prefácio o ex-secretário de estado da juventude e do desporto, Laurentino Dias, ele diz assim: "Trata-se de reconhecer e dignificar a existência dos treinadores, a quem o desporto Português muito deve, mas que nem sempre são tidos em consideração". Então, ó Petit, não te sentes tão dignificado em nem sequer poderes dar uma flash interview?
 
E continua: "Trata-se de apostar numa das funções essenciais que permitem o desenvolvimento do desporto". Esqueceu-se de mencionar que os cursos de obtenção dos níveis são caríssimos (à volta de 600€ + IVA), e que muitos potenciais treinadores ficam imediatamente assim, em potência.
 
Não tive paciência para ler muito mais porque tudo isto me meteu nojo. A escolha de ter ou não um curso de treinador é dos próprios treinadores; e cabe aos clubes e apenas aos clubes exigirem um curso. Mais ninguém te nada a ver com isso. Eu nem gosto muito do Boavista, mas gostava de vê-los lá em cima este ano e que o Petit nunca faça o curso na sua vida.


Olhem lá para ele a supervisionar o treino com tanta pinta...
Mas na hora de planear estrategicamente, não contem com ele!
 
 
 
 

sábado, 20 de setembro de 2014

O pior "fake punt" da história

No futebol americano uma equipa dispõe de 4 jogadas para avançar 10 jardas no campo. Se não o conseguir fazer, a bola passará para o adversário no ponto até onde a equipa avançou. Por essa razão, se à 4ª jogada uma equipa estiver ainda demasiado próximo da sua linha de touchdown, muitas vezes optam por fazer um punt: um pontapé logo para a frente, entregando  a posso de bola mas fazendo a jogada de ataque adversária começar bastante mais atrás.
 
Uma jogada de punt tem as suas regras específicas e a equipa que o faz toma posições e mete em campo jogadores que indicam imediatamente que o vão fazer. Isso costuma ser uma vantagem para a equipa que defende, que pode posicionar-se de acordo e fazer também entrar os melhores jogadores para receber o punt. Por essa mesma razão, algumas equipas optam por fazer um fake punt: posicionam-se de maneira a indicar que vão chutar a bola, mas depois correm uma jogada normal tentando ganhar as jardas que faltam para terem novamente 4 hipóteses para avançar mais 10 jardas.
 
Foi exactamente isso que tentou fazer a equipa de Arkansas State, no campeonato do College Norte Americano. Fizeram-no de uma maneira horrível e que resultou numa intercepção de bola (ou seja, perderam muito mais jardas do que se tivessem apenas chutado a bola); mas valeu pelo divertimento.

1º passo: pôr um gunner em movimento. Os gunners são os jogadores dos extremos que arrancam assim que a bola é chutada para tentarem placar o adversário que vai receber a bola. Pôr um deles em movimento pode confundir a equipa que defende, mas é exactamente o oposto disso que se quer quando se faz um punt - queremos que eles achem que não se passa nada.

 
 
2º passo, e o melhor deles todos: ter um jogador que finge ter um colapso, ou qualquer coisa do género. Não entendo para o que é que isto serve, excepto para distrair a defesa. Não funcionou. Ninguém se preocupou com ele quando ele caiu, e assim que se levantou tinha um gajo em cima para o "passar a ferro".

 
 
 
 3º passo: ter o punter a atirar uma bola longa. Os punters são bons a chutar, mas a sua habilidade nos passes com a mão não costuma ser grande coisa. Foi o caso. O passe ficou curto - bem curto -  e interceptado.


Palavras do treinador de Arkansas: "Because of the formation we were in for that fake punt, Booker was covered up and couldn't go downfield, or it would be a penalty. So we said, 'What do we want to do with him? Do we want to bubble him or peel him out?' Someone said let's just let him be a fainting goat. I loved it, so we just put that in."

"Fainting goat". Adoro.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Bill Russel, 11 vezes campeão da NBA, sobre a homossexualidade no desporto

Bill Russel falou, nas comemorações dos 50 anos do Civil Rights Act, sobre o que enfrentam os atletas homossexuais no desporto de hoje em dia. Além de ser Hall of Famer da NBA e 11 vezes campeão pelos Boston Celtics, Bill Russel foi também um activista importante para o movimento dos Civil Rights.
 
A sua abordagem ao tema é clara e bem feita. Russel compara a situação em que estão os atletas homossexuais com o que os negros enfrentavam há 50 anos. Questões como se um atleta gay pode ser um bom companheiro de equipa ou se vai trazer problemas aos balneários são exactamente as mesmas, mas dirigidas a uma minoria diferente. O que nos dá alguma esperança de que, eventualmente, não fará diferença para adeptos, dirigentes e atletas se um jogador é ou não homossexual. Já não faz, mas eventualmente também não fará de uma forma aberta.
 
 
"Russell said he would have only one question about a gay teammate: Can he play?"
 
 
 
 
Há uns tempos li um livro que mencionava os Implicit Association Tests feitos pela Universidade de Harvard. Estes teste são feitos para medir os nossos preconceitos não ao nível intelectual e racional, mas sim a nossa reacção imediata a um determinado grupo de pessoas (negros/brancos, obesos/magros, mulheres/homens...). Os testes mostram não só que a grande maioria tem preconceitos contra a minoria menos aceite na sociedade - mesmo que façam parte dessa minoria! - mas também que esse preconceito está tão enraizado que nem mesmo treinando várias vezes o mesmo teste a nossa opinião automática vai mudar. Mas houve um aluno da pessoa que escrevia este livro que tinha conseguido, uma única vez, alterar o resultado (de ligeira preferência para brancos para um resultado totalmente neutro). Ele fez o teste imediatamente depois de ver uma jornada dos Jogos Olímpicos, onde os atletas negros estiveram em grande destaque.
 
A entrada dos atletas negros, sobretudo nos EUA, mudou as raízes do desporto. Mas mais importante que isso, também teve os seus efeitos na sociedade. Ao contrário do que vemos todos os dias nos filmes e anúncios de televisão, nos jornais e um pouco por todo o lado, no desporto todas as raças são facilmente associáveis ao sucesso, à emoção, ao poderio físico; todas têm os seus embaixadores.
 
Com os homossexuais, o aspecto do desporto não irá mudar porque ser gay ou não não tem nenhuma vantagem ou desvantagem física. Mas muda muita coisa na maneira como o desporto ajuda uma sociedade a evoluir.
 
Podem ler a notícia inteira aqui.
 
 

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A importância do desporto I

Mais uma vez no Columbia Journalism Review, saiu um artigo com o nome What can science tell sportswriters about why we love sports. O tema interessa-me porque sempre me perguntei porque é que gosto tanto de desporto - e de competição no geral. Para já, vou falar apenas no que é abordado pelo artigo.
 
A primeira mensagem vai para os jornalistas de desporto. Neste verão muito se escreveu sobre o cataclismo que se abateu sobre o Brasil na derrota por 7-1, em casa, frente à Alemanha. O mesmo aconteceu com a eliminação prematura da Espanha. Alguns jornalistas decidiram tentar perceber o quanto a derrota tinha afectado o ânimo do país. Já antes do início do Campeonato do Mundo aconteceram por todo o lado protestos contra a FIFA e o governo brasileiro por organizarem o torneio lá; depois da derrota muitos brasileiros declararam-se contentes e outros tantos rapidamente esqueceram a derrota e focaram-se no estado do país.
 
 
 
 
Um questionário conduzido em conjunto pelo YouGov e o Times percebeu que, em 19 países de entre os que participaram neste Campeonato do Mundo, apenas na Colômbia mais de 50% das pessoas se declaram "muito interessadas" em futebol. No Brasil esse número é de 40% e 12% disseram que não se interessam minimamente - ora isso são 24 milhões de pessoas. A mensagem que fica para os jornalistas é que não devem generalizar o quão importante é um evento desportivo para um determinado grupo de pessoas. O desporto é importante, mas não é importante para toda a gente.
 
 

 
 
O segundo tema tratado no artigo é aquele que mais me interessa: porque é que o desporto é tão importante para algumas pessoas? Na opinião de um dos mais conhecidos psicólogos que estuda este assunto, Daniel Wann, existem oito razões.
 
"As pessoas gostam de desporto porque: 1- recebem benefícios de auto-estima; 2- porque têm dinheiro investido; 3- porque um namorado ou namorada ou um membro da família gosta de desporto; 4- porque é excitante; 5- porque é esteticamente interessante; 6-  porque, como no teatro, é um lugar para a expressão emocional; 7- porque precisam de escapar aos problemas do mundo real; 8- porque lhes dá um sentimento de pertença a uma coisa maior."
 
"And yet that’s the puzzle we really want an answer to—not just why we care, but why we care so much about one particular collection of athletes, and why that caring seemingly blinds us to so much else. The New York Times has published dozens of stories in the last few years alone that make me question the entire endeavor of sports fandom: the reluctant police investigation into the rape charges against a famous college quarterback; the corruption of governing agencies from FIFA to the NCAA; the links between concussions and contact sports. And yet, I’m still a fan."
 
Nos próximos posts vou falar mais sobre cada um destes pontos.
 
 
 
 
 
 
 

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O "elogio" de Bruno de Carvalho a Adrien



Eu até acho o Bruno de Carvalho um tipo fixe, e uma das melhores pessoas para estar à frente do Sporting desde há muitos anos. Mas ele não é propriamente sensível. Ao tentar elogiar o Adrien, depois de ter dito que a selecção não tinha jogado um chavo, as palavras que ele usou foram: "parece-me mais do que evidente que o Adrien tem lugar nesta Seleção". Nesta selecção? Ó Adrien, com amigos assim...

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Vem aí o uso de repetições nas arbitragens de futebol

A propósito de dois artigos que escrevi (aqui e aqui): Joseph Blatter - que, vá-se lá saber porquê, muito se tem oposto à utilização da tecnologia no auxílio à arbitragem dos jogos de futebol - veio propor que se use um sistema parecido ao do hawkeye no ténis (em que os jogadores ou, no caso do futebol, os treinadores podem recorrer das decisões do árbitro), usando imagens televisivas em directo.
 
Este mesmo sistema começou a ser usado em 1999(!) na NFL. Com os anos de experiência que já têm, seria bom que a FIFA seguisse o exemplo daquilo que por lá funcionou ou não. Em actualizações constantes, já este ano sofreu nova modificação, cujo objectivo é acelerar o processo que demora mais tempo do que seria saudável para o desporto: todos os lances em que é necessária a revisão televisiva são vistos imediatamente por um comité central em Nova Iorque; o árbitro que está nesse Officiating Command Center vê as imagens e ajuíza ainda antes do árbitro principal do jogo (que tem a palavra final sobre qualquer decisão) chegar à cabine. O mesmo método é usado no baseball e discutido para a NBA.
 


 
 
 




sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Nos Jogos Olímpicos, aproximam-se os tempos de transmissão de desportos masculinos e femininos



Saiu no Columbia Journalism Review este artigo sobre a aproximação gradual entre o tempo de transmissão de desportos masculinos e femininos. Normalmente, o desporto feminimo tem menos de 5% do tempo que é dado ao desporto masculino, mas essa percentagem aproximou-se nos Jogos Olímpicos de Inverno de Soichi: 45,4% para homens e 41,4% para mulhers (com o resto a ser para desportos mistos) - valores da NBC. Nos Jogos Olímpicos de 2012, a NBC passou mais tempo a cobrir o desporto feminino (55%) que o masculino.

É certo que os Jogos Olímpicos não são exemplo, em país nenhum, do que se passa no resto do tempo. Parte desta aproximação deve-se ao facto de, quando vemos os Olímpicos, muitas vezes não estamos a ver homens ou mulheres, mas sim Americanos, Portugueses, Jamaicanos, Coreanos. Eu gosto dessa abolição, ainda que psicológica, do género e haver essa aproximação no tempo de antena é sempre positivo.

O artigo menciona ainda alguns problemas. Não basta que ambos os géneros tenham a mesma exposição, importa também o que é dito durante a transmissão.

Angelini noticed, for instance, that during the women’s snowboarding competitions this year, the commentators would talk about the strength of an athlete’s performance and then note that, even so, the women’s version of snowboarding was about five years behind the men’s competition in what athletes are able to accomplish. Commentators will often create narratives that cast female athletes as “queens” needing to be deposed. Or, worse, one (female) commentator referred to the US women’s hockey team as “chicks with sticks.” “When a woman succeeds in competing, you hear them talk about how she was lucky. With men, it’s all about their ability and their commitment,” says Angelini. “If she falls or misses a shot, that’s when her athletic ability comes into question.”

É também mencionado o facto de no volleyball (tanto de praia como indoor) mostrarem mais as equipas femininas do que masculinas, independentemente do quão favoritas essas equipas são a ganharem medalhas, algo que estará obviamente relacionado com a sexualização das mulheres no desporto. Também será pela mesma razão que as televeisões norte-americanas transmitirem tanto Mergulho, apesar de nos EUA não haver grande interesse nem resultados nessa competição.

Como escrevi noutro artigo, a minha opinião é que aquilo a que devemos aspirar no desporto é a eliminação da segregação total de géneros. Mas a igualdade no tempo de transmissão e sobretudo neste caso com a transfiguração de homens e mulheres em atletas de um país é uma boa notícia.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Homofobia na NFL

A história de Michael Sam começou mal e acabou ainda pior. Sam tornou-se no primeiro jogador abertamente gay a ser "draftado" para uma equipa da NFL ao ser a 249ª escolha (de 256 jogadores) no draft deste ano. Boas notícias, mas nem por isso. Mike Sam tinha ganho o prémio para Melhor Jogador Defensivo da SEC, uma das conferências mais fortes do Futebol Americano universitário. Dos jogadores que tinham ganho este prémio, apenas 1 tinha ficado fora das 3 primeiras rondas, na posição #148. De todos os jogadores que ganharam este prémio em todas as conferências, apenas 3 ficaram abaixo da 6ª ronda e 75% foram escolhidos na 1ª ou 2ª ronda.
 
Os St. Louis Rams anunciaram que tinha sido uma decisão ligada, apenas, à vertente desportiva. Que nada tinha a ver com o facto de Sam ser gay. As estatísticas de Michael Sam eram fortes e não seria por isso que se afundaria no draft. É verdade que é um jogador baixo para jogar na sua posição na NFL (defensive end) mas nada o impediria de jogar a linebacker, excepto talvez a falta de experiência. Ainda assim, houve jogadores mais baixos do que ele a serem escolhidos acima no draft. Houve kickers e punters escolhidos antes dele (posições de pouca importância no Futebol Americano actual), tal como houve jogadores de conferências menores e com menos experiência a serem escolhidos. Na realidade, parece mesmo que Michael Sam se afundou no draft precisamente por ter assumido que era gay.
 
Se os St. Louis Rams não o tivessem escolhido nessa posição, muito provavelmente nenhuma outra o teria feito. E se isso acontecesse, provavelmente nenhum jogador homossexual teria a coragem de o admitir como Sam o fez, sabendo que provavelmente estaria a arriscar a sua carreira.

de: Jeff Robertson/AP images

Depois de ter feito boas exibições na pré-época dos Rams, Michael Sam não resistiu aos cortes na equipa (de cento-e-qualquer-coisa jogadores para 53, que todas as equipas fazem) e não assinou contrato pela equipa, nem sequer para os 10 jogadores da practice squad. Já no sábado, 30 de Agosto, todas as outras equipas tinham recusado a cedência feita pelos Rams. A equipa continua a afirmar que não foi por causa das distracções nem por problemas de balneário que não contam com Sam; que é uma decisão, novamente, desportiva.
 
A notícia do Bleacher Report sobre o caso resume tudo, desde a culpa parcial dos media no assunto (por terem sobrecarregado o jogador e a equipa com atenção indesejada) até à completa estupidez de não assinar um jogador que demonstrou, mesmo até já durante a pré-época da NFL - a jogar contra equipas da NFL -, as qualidades que Sam tem. Diz Mike Freeman, jornalista que escreve esse artigo:

"O Sam não ter conseguido [entrar na NFL é tão inacreditável] como ver o Abominável Homem das Neves no capô de um OVNI"